Em 06/08/2018

Clipping – UOL - Setor de imóveis do Rio está tão ruim que há escritório com aluguel a R$ 0


Em uma rápida busca por sites de compra e venda de imóveis, é possível encontrar salas comerciais de 30 metros quadrados, 70 metros quadrados e até andares inteiros em prédios corporativos pedindo alugueis tão baratos quanto R$ 300, R$ 200 e, em vários deles, de graça


Quem procura um espaço para seu escritório ou para um consultório no Rio de Janeiro pode encontrar boas surpresas. Em uma rápida busca por sites de compra e venda de imóveis, é possível encontrar salas comerciais de 30 metros quadrados, 70 metros quadrados e até andares inteiros em prédios corporativos pedindo alugueis tão baratos quanto R$ 300, R$ 200 e, em vários deles, de graça.
 
É o caso extremo dos anunciantes que oferecem seus contratos com carência, isto é, o futuro inquilino ganha os primeiros meses de isenção no valor do aluguel. E essas carências podem ser bem generosas: vão de três ou quatro meses até um ou dois anos, ou seja, o período do contrato (geralmente de 12 a 30 meses) praticamente inteiro.
 
"Há vários casos em que isso aconteceu, principalmente nas locações comerciais, em que o volume de unidades disponíveis é bem superior ao da demanda", afirmou Giovani Oliveira, gerente de locação e vendas da imobiliária carioca Apsa.
 
"O proprietário faz locações fechadas com uma isenção no aluguel, e o inquilino assume apenas o pagamento dos custos fixos, que incluem o condomínio e o IPTU [Imposto Predial Territorial Urbano]", disse Oliveira.
 
Para imóveis que estão chegando a ficar mais de um ano vazios, é uma maneira de os proprietários, geralmente empresas e fundos de investimento, reduzirem as perdas com essas contas, pelo menos. "Imóvel parado é gasto para o dono", afirmou o gerente da Apsa.
Palco de um dos maiores booms imobiliários do país poucos anos atrás, o Rio é hoje também epicentro de um desequilíbrio econômico profundo. Com o interesse por novos investimentos e negócios locais minguando, a crise atingiu em cheio o mercado imobiliário empresarial, e o resultado são pechinchas como essas.
 
Isenção de aluguel por dois anos
O centro, tradicional zona comercial da cidade, e regiões que ganharam muitos complexos empresariais nos últimos anos, como a Barra da Tijuca e o Porto Maravilha, estão entre as principais áreas onde a pratica do aluguel zero se tornou comum.
 
Ela é mais comum para os escritórios localizados em edifícios novos, que, recém-entregues, ainda demandam obras de acabamento de quem vier a ser o primeiro inquilino, como revestimento de pisos, instalações elétricas e sistemas de ar-condicionado, por exemplo. Quem topar assumir as obras ganha o aluguel grátis.
 
Edifícios mais antigos e já consolidados, porém, também têm suas ofertas. Uma consulta feita pelo UOL, por exemplo, encontrou uma sala comercial de 30 metros quadrados em um edifício no centro antigo do Rio, próximo à estação de metrô Uruguaiana, com aluguel de R$ 200 (foto acima) --mas o aluguel seria isento ao longo de todo o primeiro ano de contrato, ficando para o locatário apenas os R$ 861 do condomínio e os R$ 148 de IPTU (R$ 1.009 no total).
 
Em outro, na Barra da Tijuca, o condomínio é R$ 800, o IPTU R$ 120, e o aluguel é a combinar, mas também sai zerado pelos primeiros dois anos em um contrato de dois anos e meio (foto abaixo). A carência é a contrapartida para que a empresa que ficar com ele faça as obras necessárias.
 
Com 27 metros quadrados, a unidade é uma das várias que estão disponíveis em um grande complexo empresarial recém-lançado na região. Ela ainda está do jeito que foi entregue pela construtora: sem piso, sem cobertura nos tetos e apenas o vaso e a pia no banheiro. Também há as entradas para a instalação do ar-condicionado, mas sem os equipamentos.
 
As consultas foram feitas pelo UOL em imobiliárias da cidade na semana de 30 de julho a 3 de agosto.
 
"Nos prédios novos, algumas empresas chegam até a dar carência total das contas no contrato, não cobram nem o IPTU nem o aluguel", disse Marcia Fonseca, diretora da Colliers para o Rio de Janeiro, consultoria especializada em mercado imobiliário corporativo e comercial. "São prédios que ainda estão totalmente vazios e querem trazer movimento, atrair os primeiros ocupantes."
 
Depois do boom, mais de 30% dos escritórios vazios
Segundo Marcia, há uma conjunção de fatores muito específicos do Rio e que fazem com que o mercado imobiliário corporativo, que sofreu no país inteiro com a recessão dos últimos anos, viva momentos especialmente amargos ali.
 
"O Rio passou por um boom imobiliário muito forte, principalmente durante a Copa do Mundo [2014] e as Olimpíadas [2016]; havia grandes perspectivas de crescimento, e muitas empresas sinalizavam investimentos", disse Marcia. "Havia muitos clientes, mas não existia prédio; o mercado foi e construiu", afirmou. Agora há muitos prédios, mas bem menos clientes.
 
Crise na Petrobras também atrapalha
Entre 2014 e 2018, na estimativa da Colliers, foram entregues 600 mil metros quadrados em novos imóveis corporativos, entre salas comerciais, escritórios e lajes --é o equivalente a tudo que já existia em imóveis do gênero do centro da cidade. O problema é que, enquanto esses projetos eram concluídos, o cenário mudou totalmente de figura.
 
"O estado passou por uma crise econômica, uma crise política e ainda é altamente dependente da Petrobras, que, também em crise, reduziu enormemente os investimentos", afirmou Marcia.
 
Locatária em grande escala na cidade, a petroleira reduziu em cerca de 50% a quantidade de espaços que tinha alugados nos últimos anos, nas estimativas do mercado local. Isso, por si, já abriria um buraco enorme de imóveis vazios à espera de novos ocupantes, independentemente de outros novos continuarem sendo entregues.
 
Atualmente, a Colliers estima que a taxa de vacância no mercado imobiliário corporativo do Rio de Janeiro seja de 36%, quer dizer, a cada dez escritórios, quase quatro estão vazios. Para se ter uma ideia, a mesma taxa, em São Paulo, é de 21%.
 
"O ponto de equilíbrio, em que proprietários e inquilinos negociam de igual para igual, é de algo entre 11% e 14%", disse a diretora da consultoria.
 
É um ponto em que há uma margem de imóveis vazios na medida suficiente para que se mantenha a rotatividade entre eles, sem que nenhum fique muito tempo vazio nem que nenhum interessado custe muito a achar uma opção dentro do que procura. "Ainda estamos longe disso, o que dá ao inquilino, hoje, uma possibilidade enorme de negociar."
 
Fonte: Uol
 


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