BE2042

Compartilhe:


Passagens de Pinheiro Neto 
Emanuel Costa Santos*


A invenção do telefone

Lembro-me do relato feito por um ilustre jurista, reportando-se a uma intervenção procedida junto ao eminente advogado.

Tentava justificar a ausência de uma dada pessoa de seu relacionamento em uma reunião anterior agendada com o "pai" das empresas em atuação no Brasil, alegando problemas diversos, que não vêm ao caso.

Após ouvir toda a justificava, com uma única frase o Doutor Pinheiro Neto encerrou a conversa:

– O seu amigo já ouviu falar em Graham Bell?

De frente com Doutor Pinheiro Neto

Certa feita estava em Pinheiro Neto Advogados, quando fui surpreendido por diversas pessoas me procurando quase simultaneamente. Essa simultaneidade se deve ao excelente serviço de comunicação interna do Escritório.

O fato é que procuravam dizendo:

– O Doutor Pinheiro quer falar com você.

No início pensei que era brincadeira, mas ao longe ouvi outro comentar:

– O Doutor Pinheiro soube que o moço do cartório está aí e quer falar com ele.

Com o temor reverencial de todo jovem que sai das bancas da faculdade ouvindo falar da figura quase mítica de Pinheiro Neto, fui a sua sala, pensando: "que será que aprontei? Será que fiz alguma coisa errada? O que será que ele quer comigo?”

Chegando à sala do Doutor Pinheiro, vejo um senhor a pegar sua bengala e, caminhando em direção à porta de saída, dispara, em palavras outras:

– Preciso fazer um ato notarial. O senhor me ligue amanhã.

Se tanto, tive 17 segundos de visão do gigante da advocacia. 17 segundos gravados na memória, que demonstram o jeito prático e rápido de lidar com os assuntos.

O telefonema do dia seguinte

Na seqüência do pedido, telefonei ao Doutor Pinheiro Neto às 9 horas da manhã do dia seguinte, marcando um horário para visitá-lo em sua residência, com a finalidade de conversar sobre o ato notarial que pretendia lavrar.

Logo depois, liguei a um advogado do Escritório e disse: olha, conforme combinado, telefonei hoje cedo para o Doutor Pinheiro e já agendamos um horário.

Perguntou-me o advogado:

– Quanto tempo durou a conversa?

Respondi:

– 30 segundos.

Ao que ele me disse:

– Tudo isso?! Você está ficando importante! E a que horas você ligou?

– Logo cedo, às 9 horas.

– Após uma leve risada, informou-me que isso já era deveras tarde para um homem que, de maneira disciplinada, começa seu dia antes das seis horas da manhã.

Em casa de Doutor Pinheiro

Após saber que trinta segundos era quase um recorde, não pensei duas vezes.

Havia agendado estar em residência do Doutor Pinheiro Neto às 9 da manhã. Faltavam 15 minutos para o horário e lá estava eu, presente. No começo, tímido diante do fenômeno que estava diante de mim. Como teria ele de suportar minha presença por aqueles minutos, pensei em deles fazer momentos de muito proveito. Já comecei errado, dando de pronto o meu tropeço.

– O Escritório é o maior de São Paulo, não?

E ele me respondeu, com ar de quem não gostou da forma da pergunta:

– Maior de São Paulo, do Brasil, da América do Sul e talvez da América Latina.

Engolindo a seco a resposta, mudei a prosa de rumo.

Comecei a comentar que havia feito algumas escrituras de salas adquiridas pelo Escritório. Aí sim, vi o brilho em seus olhos.

No diálogo que se seguiu, senti com que emoção o Doutor Pinheiro Neto valorizava duas coisas: o crescimento do Escritório, do qual é fundador, e a participação ativa dele, Escritório, na chegada de diversas empresas que impulsionaram o crescimento do país.

Calma, não pensem que isso tudo foi em apenas 45 segundos. A advogada que esperávamos teve um leve atraso, e pude usufruir 20 minutos com o Doutor Pinheiro Neto.

J. M. PINHEIRO NETO

Passados alguns dias, assinamos um ato notarial com o Doutor Pinheiro.

No Escritório, os advogados que me conheciam e que sabiam do ato, tinham uma única curiosidade:

– E aí, ele assinou a escritura como?

Respondi:

– Apôs sua assinatura e o nome por extenso.

– Mas como ele colocou o nome?

Disse:

– Em princípio ele escreveu abreviado.

Interromperam-me:

– Sim, sei: J. M. PINHEIRO NETO.

Falei:

– Isso.

Mas insistiram:

– E daí?

– Daí que pedi que ele colocasse seu nome por extenso.

– Não acredito, você fez isso?

– Fiz.

– E ele?

– Colocou.

Por dever de ofício sempre pedi a aposição do nome por extenso, na íntegra, mas somente depois tomei conhecimento que o Doutor Pinheiro Neto se referia a seu nome, normalmente sem regra de exceção, como J. M. PINHEIRO NETO, KBE.

Ufa! Pelo menos comigo deixou passar em branco.

* Emanuel Costa Santos é o 2º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Araraquara e foi notário-preposto do 6º Tabelião de Notas da capital de São Paulo.



Últimos boletins



Ver todas as edições