BE2036

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Republicado por conter incorreção.


Sinval de Oliveira Salvador
Renasce um registrador civil no plano do Senhor
Emanuel Costa Santos *


Final de semana de 2003. Após algum tempo que havíamos chegado a Araraquara, pensamos em interfonar para um vizinho, com a finalidade de nos apresentar.

- Alô!
- Alô, quem fala?
- Clarice.
- Por favor, o Sinval está?
- Quem gostaria?
- Meu nome é Emanuel, um colega de profissão recém chegado na cidade. Gostaria de me apresentar a ele.
- Prazer Emanuel. Sou a esposa do Sinval. Infelizmente ele não está agora. Ele está no Cartório.

Ficou em nossa mente essa passagem, que mostra, além do dever legal de plantão, a direta preocupação daquele Registrador Civil em se fazer literalmente presente no trabalho honrado e necessário daquela especialidade registrária.

Chegado em Araraquara na década de 90 do século XX, Sinval de Oliveira Salvador ganhou respeito e admiração da sociedade. Dono de um sorriso largo e franco, sobre o qual se estende um bigode volumoso, sempre, ao nos avistar, carrega gestos de generosidade, e em algumas oportunidades, os braços abertos para um fraternal abraço.

Já então próximo dos 60 anos, não esmorece diante do trabalho em sua Serventia e em prol da instituição. É daqueles profissionais que – na distinção que fazemos – estão entre os que “são” cartorários, e não entre os que “estão” nesta condição. Aqueles possuem uma chama interior que os motiva perenemente na prática do ofício, e nele não vislumbram somente uma profissão, mas quase um sacerdócio.

Propositadamente evitamos falar no tempo pretérito, pois a vida, para nós, é um emaranhado de existências.

Diferentemente de nossa inquietude, própria de nosso estilo, Sinval carrega a marca da serenidade. Fala menos e ouve mais.

De igual, lembramos de ter tido um dos primeiros contatos com ele pela leitura de um seu artigo no Boletim Cartorário – Diário das Leis, que tem como redator outro homem-exemplo, Doutor Antonio Albergaria Pereira. Através da autorização crítica deste, conseguimos publicar alguns trabalhos naquele respeitável Boletim.

Entretanto, consigo até neste fato vislumbrar a diferença: enquanto somos rápido digitador da “pena” eletrônica, imagino Sinval tranqüilo, pensando cada palavra, cada frase, e fazendo do momento da escrita um prazer, encontrando a si mesmo.

Agora, sempre nos chamou a atenção o respeito e admiração com que a sociedade sempre a ele se referiu.

Temos em nossa memória que na desordem organizada da reforma que implementamos no serviço imobiliário que estamos à frente, não raro ouvimos dos usuários elementos de comparação. Alguns nos falavam do jardim existente à frente do 1º Registro Civil da Sede, outros do uniforme, que segundo alguns, é o mais bonito da Comarca. E por que nos chamou a atenção?

Porque é a mostra de quem, apesar de já estar há mais de 30 anos na carreira, continua “antenado” com a inovação, o aperfeiçoamento.

Mostra disso é ter recepcionado Sinval a primeira etapa do projeto do Registro Civil Itinerante, ser o primeiro na região a implementar o reconhecimento de firma com o uso da biometria.

De hábitos simples, percebemos naquele Registrador Civil a pessoa que longe está das vaidades que sombreiam a muitos quando estão em posição de destaque. No posto de gasolina próximo a sua residência, onde se encontra uma pequena loja de conveniências, conversa com os amigos (entre eles, fez-se parceiro de conversa de um nosso irmão durante os anos de 2004 e 2005), troca idéias, enfim, joga um pouco de conversa fora, conseguindo unir a responsabilidade profissional à tranqüilidade necessária para se preparar para o dia seguinte.

Em um dos últimos encontros públicos, tivemos oportunidade de degustar a famosa paella anual realizada em Américo Brasiliense.

Mas por vontade divina, não pudemos nos encontrar no último jantar.

Sexta-feira, 16 de setembro de 2005, chegamos ao beneficente Jantar das Celebridades, organizado todo ano, assim denominado porque algumas celebridades servem os convidados. Lembramos que nossa mesa foi generosamente compartilhada pelo comentarista Luciano do Valle.

Lá avistamos, isolados em uma mesa, o casal amigo Ane e Marcelo, simpáticos representantes do povo gaúcho. Disseram-nos que foram a convite do Sinval, e que o estavam esperando para o jantar, pois havia tido um problema de pressão.

Mas não deveria ser naquele dia seu encontro com as celebridades mundanas. A ele estava preparada uma ceia mais importante e a C elebridade que o aguardava é aquela que dá a vida e chama seus filhos para o seu convívio, quando Sua vontade é essa.

DEUS chamou Sinval, e no sábado, quando estávamos indo novamente ao hospital para visitar a família, chega-nos a notícia que sempre buscamos não ouvir, mas que a preparação espiritual deve ser sempre no sentido de suportar a dor e auxiliar aos familiares no limite de nossas possibilidades.

Como diria Sócrates, o filósofo, em palavras outras, viver é se preparar para a morte, entendendo-a como o prosseguir da vida. E Sinval, com seu jeito simples, com sua dedicação familiar, profissional, com certeza se preparou para esta nova etapa da vida, onde os benfeitores do plano superior já o estão a assistir.

Fica a frase que consta na porta de sua casa: “na casa do vovô pode quase tudo”. Só não pode chorar, mas pode rezar, elevar o pensamento em prece e ajudar a vovó Clarice a manter a alegria acesa naquele lar, fazendo desta atitude o registro que Sinval gostaria de ver guardado indelevelmente no acervo da memória de cada familiar.

Que Deus o abençoe amigo e colega de profissão, Sinval de Oliveira Salvador, 1º Oficial de Registro Civil da Comarca de Araraquara, Estado de São Paulo, porque os registros não param, e os renascimentos no plano espiritual precisam da sua dedicação para a necessária anotação no Livro da Vida.

* O autor é 2º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Araraquara-SP



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