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O dom divino de ser mãe - João Baptista Galhardo [i]*


Não há, pelo menos não deveria haver, apenas um dia marcado para se reverenciar a mãe.

No mundo atual informatizado, onde se conversa mais com máquinas do que em família, a mulher, mãe pela própria natureza, deve ser exaltada e louvada todos os dias do ano por conservar ainda o seu coração como órgão de fé, de amor, de tranqüilidade e de paz.

Ainda não contaminada pelo robotismo, conserva o seu coração como órgão de harmonia, de esperança e de ideal.

Toda mulher nasce com o dom divino de ser mãe. Mesmo que não tenha gerado um filho e nem venha a gerá-lo. Desde criança, com instinto materno, cuida com carinho da sua boneca, embalando-a no colo, cantando-lhe canções de ninar....”boi da cara preta ...”, “sapo cururu da beira do rio ...”.

Depois, como mãe coadjuvante, cuida, com atenção e desvelo, dos irmãos menores.

Mais tarde torna-se mãe do namorado, aprimorando o seu comportamento, ensinando-o a se vestir, torcendo pelos seus estudos, fazendo novenas para conseguir emprego e orando para deixar eventuais vícios perniciosos.

Depois se transforma em mãe do marido antes mesmo de o ser dos filhos. E quando estes nascem, tornam-se suas protetoras incansáveis. Seus filhos são sempre os melhores e os mais bonitos. Enfrentam, se preciso, Juízes e Tribunais, na sua defesa, por pior que tenha sido o ato praticado. Juram a inocência deles ou justificam o injustificável: “Doutor ele é bom, foram as más companhias...”.

Quantas mulheres sacrificam a própria vida amorosa ou sua particular existência para serem mães das próprias mães, ou do pai, de um avô ou de uma avó. Mães de sobrinhos desvalidos. E quantas avós se tornam mães dos netos? E as mães adotivas que substituem as de sangue? Enfermeiras, médicas, professoras, babás, assistentes sociais e outras tantas que amparam, educam e assistem, dando, também, afeto àqueles que não são carnes de suas carnes.

Quando Deus quer entregar, em adoção, crianças deficientes físicas e ou mentais, Ele procura aquelas mulheres dotadas de coração privilegiado, carregado de amor, paciência, ternura, abnegação e renúncia, para essa sublime missão.

Anualmente, Ele encontra milhares com essas virtudes divinas. Hoje a mulher, competindo com o homem em funções públicas ou privadas, em igualdade de condições, tem múltipla função: cuidar do lar, da educação e acompanhamento dos filhos, e ainda do seu trabalho, tornando-se, também, arrimo da família. Com tanta ocupação e inúmeras responsabilidades a mulher não esmorece nem se abate na missão sublime de ser mãe.

Sejam brancas, negras, amarelas, altas, baixas, gordas, magras, fortes ou fracas, se necessário dilaceram o próprio corpo para alimentar um filho como fazem os pelicanos. Com sabedoria já foi dito que se a criança é o futuro, no coração das mães repousa a sementeira de todos os bens do porvir.

A mulher inspira. É o ideal e o santuário. É a sublimação em forma humana. Mãe não pede nem quer presentes. Ela se alegra e se contenta com o amor que lhe é oferecido. A mãe, até quando eventualmente ofendida por um filho arranja-lhe desculpas para o seu gesto.

A alegria, a dor, o desgosto, a aflição e o sofrimento de um filho, são sentidos em dose reforçada pelas mães. Pincele-se o seu retrato e veremos que ela tem um pouco de Deus pelo seu constante amor sem nada pedir em troca. Percebe-se que a mãe tem outro tanto de anjo, pela sua perseverança e dedicação. A mãe, que sendo velha se rejuvenesce, na guarda e proteção de um filho. Ignorante, torna-se sábia, desvendando com sua intuição materna, os segredos dos filhos. E se for sábia não perde a simplicidade, mantendo a pureza de uma criança. Pobre, se enriquece com a alegria, a felicidade e o sucesso dos filhos. Se for rica, empobrece-se para não sofrer com a agressão dos ingratos. Se for fraca, tem a força e a bravura de um leão.

Entretanto, viva não lhe dão valor. Ela passa despercebida porque não faz alarde de seu heroísmo. Com a magia e os poderes que Deus lhe deu, faz desaparecer as dificuldades, amenizando todas as dores. E depois de morta, daríamos tudo que temos para receber um seu abraço e ouvir pelo menos uma palavra dos seus lábios.

A mãe, reitero, não quer nem espera recompensas materiais.

Certa vez, quando bem jovem, troquei o presente, por uma carta de amor à minha mãe. Quarenta anos passados, logo depois de seu falecimento, encontrei em sua bolsa aquele escrito à mão, bico de pena, com letra caprichada e em papel próprio, com algumas dobras já rasgadas. Quantas vezes, no silêncio do seu mundo ela deve ter lido aquele canto de amor e carinho. Se soubesse, e hoje sei, da sua importância, muitas outras teria escrito. Lembrando Victor Hugo, se o homem é a mais elevada das criaturas, a mulher é o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono e para a mulher um altar. O trono exalta, mas o altar santifica. A mulher é o coração que produz o amor que ressuscita. Anjo indefinível. A mulher é capaz de todos os martírios que purifica. É um evangelho que aperfeiçoa. Um sacrário perante a qual ajoelhamos. A mulher sonha e sonhar é ter na fronte uma auréola. A mulher é um rouxinol, que com seu canto, conquista a alma.

Enfim, se o homem está onde termina a terra, a mulher está onde começa o céu.

Mesmo com múltiplas ocupações, a mulher nasce e morre como mãe. Quantas mães, por qualquer razão abandonadas em asilos ou “casas de repouso”, procuram justificar e defender a ausência dos filhos que nunca chegam, dizendo, para as companheiras de infortúnio, do amor deles para com elas, por eles nunca confessado. Talvez até sentido, mas nunca expressado. Muitas dessas mães, velhinhas esquecidas pela família fingem demência e simulam uma insanidade inexistente, para justificar o embalo de uma trouxa de pano que acalentam no colo, como se estivessem ninando um filho, voltando a entoar, num sussurro, o “boi da cara preta...”, o sapo cururu da beira do rio”, “ a Terezinha de Jesus que de uma queda foi ao chão..”, e contar historinhas improvisadas, sempre com o mesmo final... “e assim eles foram felizes para sempre”.

Bem disse Coelho Neto “todo o bem que a mãe goza é bem do filho, espelho em que se mira. Afortunada luz que lhe põe nos olhos novo brilho. Ser mãe é andar chorando num sorriso. Ser mãe é ter um mundo e não ter nada. Ser mãe é padecer num paraíso”.

Porquê tanta preocupação na escolha de um regalo material? Dê a ela o presente mais precioso que gostaria de receber. Não gasta a língua nem esvazia o bolso. Diga-lhe apenas quatro palavras: “MÃE EU TE AMO”.

 



[i]* J.B. Galhardo é registrador imobiliário e secretário-geral do Irib.



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