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Em 2004, escolha ser feliz! - João Baptista Galhardo[i]*

 


Na minha infância, nos anos quarenta, minha família (meus pais e seis filhos), morava em quatro cômodos alugados. Era a última casa da última rua da cidade. Vivíamos as conseqüências da segunda guerra mundial. Não havia emprego. Muito menos para meu pai, um imigrante espanhol, a quem não era dado sequer o direito de ter uma carteira do trabalho.

A casa era composta de uma pequena cozinha com fogão à lenha, uma diminuta sala e dois quartos separados por uma parede baixa. Energia elétrica se resumia em duas lâmpadas acionadas por uma pêra. A água embora encanada, era quase sempre suprida por caminhões pipa da Prefeitura.

Meu pai sustentava a família com o ganho de pequenas e eventuais tarefas, principalmente as de eletricista. À tarde, já ao escurecer, esperávamos por ele, fora da casa. Todos os filhos, principalmente os menores, corriam ao seu encontro. E ele pegava os que coubessem em seu colo. Com otimismo contava as histórias do dia. Depois de jantar, os filhos faziam suas tarefas escolares, algumas brincadeiras e se recolhiam para dormir. Todos ao mesmo tempo. Os pais em um dos quartos e os filhos empilhados no outro. De um quarto para outro os filhos pediam a bênção dos pais. A bênção pai. A bênção mãe. Deus te abençoe, Deus te abençoe, Deus te abençoe...

Após abençoar o último, dizia meu pai “não esqueçam de rezar e agradecer a Deus por tudo que nós temos”. E os filhos obedeciam. Pelo menos uma Ave Maria e um Pai Nosso bem rezados.

A casa não tinha forro e a lua varava as telhas em desalinho, “salpicando de estrelas nosso chão”. Um dia, meu pai retornando do trabalho, alegre, como sempre, disse para minha mãe

    -    -    Nina você não sabe o que eu achei.

    -    -    O que foi Paco?

    -    -    La trava de la suerte.

    -    -    O que é isso?

    -    -    Achei uma ferradura com sete buracos. Dizem que dá sorte a quem encontra. Vou pendurar atrás da porta para que ninguém tenha inveja da nossa felicidade.

Tempos depois fiquei sabendo que meu pai lia diariamente a oração de São Francisco de Assis que carregava consigo: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz. Onde há ódio que eu leve o amor... É a oração das pessoas de bem, dos otimistas e felizes. Meu pai tinha e passava para a família o costume de ser feliz. A felicidade é um estado de espírito. Infelicidade e pobreza são conceitos distintos, embora o infeliz seja quase sempre um pobre de espírito. Se a felicidade é um estado de espírito, a infelicidade também o é. Todos nós temos a liberdade de escolher a felicidade. A felicidade existe. Como diz Vicente de Carvalho: “essa felicidade que supomos, árvore milagrosa, que sonhamos toda arreada de dourados pomos, existe sim: mas nós não alcançamos porque está apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos”.

Há uma frase na Bíblia que diz: “escolha neste dia a quem vai servir”. Isso parece e é extraordinariamente simples. Muita gente tropeça no caminho que leva à felicidade por não reconhecer na simplicidade a sua chave.

São simples as grandes coisas da vida. É feliz quem tem o hábito de ser feliz. É infeliz quem tem o hábito de ser infeliz.

Claro que algumas tristezas são inevitáveis e nos fazem algumas vezes infelizes. Mas não são poucos os que constroem a sua própria infelicidade. Em cada cinco pessoas, quatro não são felizes ou pelo menos não quanto o poderiam ser. É lamentável que alguém tenha o hábito de ser infeliz. A vida por si só cria tantos problemas que diluem nossa felicidade. Seria uma grande tolice se procurássemos ainda destilar infelicidade em nosso espírito. Os ressentimentos, os temores, a má vontade, os aborrecimentos, a inveja são os principais ingredientes de que se serve o processo criador da infelicidade. A felicidade está sempre bem próxima e ao nosso alcance. O homem ao tentar encontrar a felicidade, a paz e a prosperidade no mundo exterior, se esquece de olhar para seu próprio interior, depósito infinito de riquezas.

Para alcança-la antes de tudo tem que se livrar da arrogância, do orgulho, da dissimulação e da pretensão. O homem é a soma de seus pensamentos. É o único responsável por sua própria vida. O seu equilíbrio, a sua firmeza, a sua segurança e a sua confiança dependem sempre da harmonia de seus pensamentos com as verdades eternas e com os princípios salutares que orientam a vida. Aquilo que se pensa se cria. Aquilo que se sente se atrai e aquilo que se imagina, vem a ser. Deve a pessoa cada vez mais se libertar de toda a falsidade, afetação, fingimento, ostentação, expulsando da mente o negativismo, o criticismo, a hipocondria e a autocondenação, tendo sempre em vista a obtenção de harmonia, paz, saúde, alegria e entusiasmo.

Pertencemos a um universo de ação e reação recíprocas: planta-se, colhe-se. E para toda pergunta há uma resposta. Há pessoas que começam o dia nutrindo idéias derrotistas: “hoje vai ser um dia negro”. “Tudo vai sair errado”. “Não vou conseguir”. “Todos estão contra mim”. “O negócio está ruim”. “Vai piorar”. Chego sempre tarde”. “Nunca tenho oportunidade”. “Eu não deveria ter escolhido esta profissão”. “Ele pode, mas eu não posso”. “Sou perseguido”. Se uma pessoa assume essa atitude mental logo pela manhã, fará com que assim seja e realmente o será.

São os pessimistas que amanhecem escolhendo a infelicidade. Há necessidade de se compreender que o mundo em que vivemos é determinado em grande parte pelo que vai na mente. Marco Aurélio, sábio romano, dizia: “a vida de um homem é o que seus pensamentos constroem”. Emerson, o mais notável filósofo americano confirmava: “um homem é aquilo que ele pensa durante o dia inteiro”

Os pensamentos que se nutrem com habitualidade e constância convertem-se em realidades.

Por isso não se deve permitir os pensamentos negativos, os pensamentos derrotistas, maldosos e deprimentes. Pessoa feliz ou menos infeliz é aquela que constantemente produz e pratica o que há de melhor dentro de si. A infelicidade e a virtude se completam. Para manutenção de pensamentos positivos há necessidade de se expressar mais o Amor.

São Marcos ensina “se podes crer, tudo é possível ao que crê”. E aquele que crê faz da felicidade um costume.

Perguntaram a um fazendeiro o segredo de sua felicidade e a resposta foi a seguinte: “É um hábito meu o de ser feliz. Todas as manhãs ao despertar e todas as noites, antes de dormir, abençôo minha família, a alegria do meu lar, o pão que comemos, o leito que nos aquece, abençôo as plantações, o meu gado e agradeço a Deus pela colheita maravilhosa, que se não foi ótima poderia ser pior”. Esse fazendeiro adotara a prática há muitos anos. E como é sabido, os pensamentos repetidos regular e sistematicamente mergulham na mente subconsciente e se tornam verdades. Descobriu aquele homem que a felicidade é um hábito, um costume. Um otimista abençoa até mesmo os obstáculos da vida que se transformam em alavanca para o sucesso. Muitos não conseguem esse estado de espírito pela razão simples de não terem fé. A vida nada mais é do que a fé em ação. Sem fé não há otimismo, confiança, amor, esperança, paz e harmonia.

A lei da fé é a lei da vida e pode ser resumida como um pensamento na mente. Dê-se o nome que quiser: poder do subconsciente, pensamento positivo, poder da oração, poder ou força mental; a fé significa ter confiança. É um estado em que o homem se envolve irresistivelmente com aquilo que espera.

Aos que não acreditam nessa fonte geradora de energia, por ser invisível, convém lembrar, para comparação, o exemplo fornecido por Thomas Edison, o mago da eletricidade: Uma senhora lhe perguntou: “Senhor Edison, o que é a eletricidade? Ele respondeu : “é suficiente saber que ela existe e funciona. Use-a!”.

Feliz Ano Novo!

Aviso aos navegantes

Aproveitando a carta do Secretário João Baptista Galhardo, eleita a mensagem oficial do Irib aos registradores e leitores deste Boletim neste final de ano, gostaríamos de agradecer a todos os que contribuíram para que este boletim informativo pudesse alcançar o prestígio e importância que tem.

Desejamos que 2004 possa ser um ano de grandes e proveitosas realizações.

Sérgio Jacomino,

Presidente.



[i]* João Baptista Galhardo é registrador imobiliário e tabelião de protesto em Araraquara, São Paulo, e secretário do Irib. 



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