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BEvisita cartório de notas em Manaus e entrevista tabeliã

Desde maio de 2006, Ana de Fátima Abreu Chagas está à frente do recém-criado 9º Tabelionato de Notas de Manaus, que ela mesma instalou. Filha de tradicional tabelião de Aracaju, sua cidade natal, ela foi à luta, prestou concurso público, foi aprovada e hoje tem um dos cartórios de notas mais bem instalados e aparelhados da capital de um estado importante como o Amazonas.

Ana de Fátima Abreu Chagas tradicionalismo e modernidade se harmonizam no perfil da notária (Foto Erlan Monteiro)
 
O Boletim Eletrônico IRIB esteve em Manaus para acompanhar a participação do IRIB no Seminário Regional Norte – Cadastro Técnico Territorial Multifinalitário, realizado pelo Programa Nacional de Capacitação das Cidades, do Ministério das Cidades em parceria com a CEF, de 21 a 24 de novembro. Em breve estaremos divulgando a palestra do diretor Sérgio Jacomino.

BE – Fale sobre sua história, que começou em Aracaju.

Ana de Fátima – Fui tabeliã substituta durante 22 anos em Aracaju. Trabalhei com meu pai desde muito nova. Quando ele faleceu, minha mãe assumiu a titularidade do cartório. Trabalhei com ela até algum tempo atrás e, paralelamente, prestei alguns concursos públicos. Foi quando prestei o concurso em Manaus e assumi a titularidade do nono tabelionato de notas, em maio de 2006.

BE – O cartório está em funcionamento há 6 meses?

Ana de Fátima – Não. Na verdade a posse foi em janeiro e o cartório começou a funcionar em maio de 2006.

BE - O que a motivou a trazer o cartório para um bairro, uma vez que a maioria dos tabelionatos estão localizados no centro da cidade?

Ana de Fátima –  Tentei trazer o cartório para o bairro de Adrianópolis em virtude da minha experiência na atividade notarial em Aracaju. Eu percebi que os cartórios de Manaus têm uma cultura muito tradicional, com atendimento de balcão e uma estrutura que podia ser melhorada. Cartório é tradição, no entanto, é preciso dar uma roupagem moderna ao serviço, um atendimento de qualidade. A minha logomarca traduz exatamente essa idéia da tradição numa roupagem mais moderna. Eu não quis trazer só uma identidade moderna, mas também a tradição, a experiência, o que o notário deve fazer com modernidade. Por isso, escolhi um bairro que eu pudesse proporcionar instalações modernas e confortáveis para o cartório. Tive muitas dúvidas, claro. No entanto, na primeira semana de funcionamento do cartório eu me surpreendi quando me perguntaram se o custo dos serviços seria mais elevado pelo fato de proporcionarmos melhor qualidade de atendimento num bairro melhor... Por essas questões é que percebemos que as pessoas entendem o cartório como um balcão de atendimento. Precisamos mostrar que o cartório pode trazer essa modernidade de instalações, de atendimento, de presteza e tudo o que podemos conferir ao usuário sem custo adicional nenhum.

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BE – E como está sendo sua experiência com o público?

Ana de Fátima – A receptividade foi muito boa desde o início, o público tem gostado muito dos serviços. Acredito que temos um futuro muito bom. O cartório foi criado, é recém-instalado, por isso o início da prestação de serviços é uma luta árdua, mas acho que está sendo muito bom. Vejo isso como incentivo e acho que teremos progresso.

BE – Fale um pouco sobre a idéia de descentralização dos cartórios. Você trouxe um cartório para um bairro. Você acredita que o cartório deve estar onde o povo está?

Ana de Fátima – A idéia de descentralizar o cartório talvez tenha ocorrido pela minha própria experiência ao longo dos anos. O cartório de Aracaju era localizado no centro da cidade e até hoje atende um público central, mas acho que o centro da cidade está cada vez pior. Por isso, tentei aprender com essa experiência, que não foi muito boa. Era preciso melhorar, levar o cartório para mais próximo do público e não o contrário. Além disso, para proporcionar o conforto que o público merece, o cartório precisava deixar o centro da cidade, onde não seria possível oferecer mais comodidade, estacionamento, etc. Essa descentralização visou essencialmente o atendimento ao público, porque poderíamos oferecer instalações melhores. Eu queria mostrar o meu conhecimento e fazer um trabalho diferenciado de levar o utente a conhecer o que é um cartório de notas, como lavrar uma escritura. Estamos tentando trazer para cá essa cultura.

BE – Você acha que existe solução para a irregularidade generalizada existente em Manaus?

Ana de Fátima – não posso falar muito desse assunto até porque faz pouco tempo que me instalei em Manaus. Esse problema da terra é de difícil solução, mas acredito que ao longo do tempo conseguiremos mostrar o que a garantia do registro e a publicidade do ato podem proporcionar, e talvez consigamos resolver a questão. Acredito que a irregularidade da terra se deve, aqui, às invasões ocorridas no estado. Praticamente todo o estado do Amazonas é invasão. A cidade começa na zona sul e se expande até a zona norte, que é recente. Em 1980 essa região era uma floresta, de vinte anos para cá criou-se um bairro onde moram atualmente 600 mil habitantes. Não chegou a florescer a cultura da transmissão da propriedade, visto que essa região foi invadida e até hoje os moradores acreditam que somente o contrato sem registro é suficiente como garantia.

BE – Não existe financiamento imobiliário? Sem crédito e sem garantia hipotecária o sistema de financiamento da habitação não funciona. Se a propriedade não está regularizada, a população é penalizada de alguma forma.

Ana de Fátima –  Existe o financiamento imobiliário, mas a população está sendo penalizada justamente por falta de conhecimento, e ninguém leva esse conhecimento à população, nem o estado e nem a prefeitura. Uma notícia que se tem é que 90% dos recursos da Caixa Econômica Federal para o estado são devolvidos por conta da irregularidade imobiliária que existe. Bastaria existir apoio e boa vontade.

BE – Qual sua mensagem para os futuros colegas que pretendem exercer a atividade de notários e registradores?

Ana de Fátima –  Estudar é fundamental, mas não é tudo, a experiência também vale muito. Para ser um tabelião temos que trazer nossa experiência para o dia-a-dia. Esse é um serviço singular. O candidato que tiver apenas conhecimento jurídico terá mais dificuldades do que aquele que aliar o conhecimento à experiência prática. O dia-a-dia do cartório é complexo, só quem passou pela experiência saberá lidar com o público. Portanto, acho que as duas coisas são importantes, a experiência profissional e o estudo, um complemento fundamental. Devemos ter o prazer de saber que conseguimos conquistar a titularidade com o estudo.

BE – Você sofreu algum preconceito pelo fato de ser mulher?

Ana de Fátima – Nunca notei preconceito, principalmente aqui em Manaus. Fui muito bem recebida. As mulheres vêm se destacando em todos os campos profissionais e o preconceito está ficando cada vez mais distante.

Ana de Fátima Abreu Chagas e seu marido José Adroaldo Chagas Junior (Foto Erlan Monteiro)

BE – As pessoas não se assustam quando encontram uma mulher à frente de um cartório?

Ana de Fátima – Às vezes as pessoas se assustam, mas de maneira positiva. Não vejo preconceito nisso. Tanto o homem quanto a mulher se sentem orgulhosos de saber que assumi o cartório, principalmente por eu ter saído de minha cidade e hoje estar enfrentando uma nova realidade, uma nova cultura.

BE – Quais os principais problemas que você teve ao vir para Manaus?

Ana de Fátima – Ter de deixar minha família em Aracaju foi o meu maior problema. Meu marido virá para cá com o tempo. Meus filhos não moram em Manaus e nem em Aracaju, moram em São Paulo. Ou seja, deixar o marido em Aracaju e os filhos em São Paulo foi realmente um grande problema. Esse foi um desafio, mas um desafio bom e gratificante.

BE – Como é o relacionamento dos notários e registradores com o poder Judiciário de Manaus?

Ana de Fátima – Eu tenho ótimo relacionamento com o Judiciário de Manaus, tenho contato constante com os desembargadores sempre que preciso discutir um assunto.

Um cartório bem instalado causa uma boa impressão nos usuários e nos visitantes
 
Visite o Cartório Abreu aqui: http://www.flickr.com/photos/iacominvs/sets/72157594432167078/