Em 07/08/2018
Clipping - DCI - Bancos captam mais recursos para agro e pouco para imóveis
De acordo com os dados da B3, instituições financeiras emitem um volume maior de papéis relacionados aos empréstimos rurais, enquanto setor imobiliário está em baixa
Os bancos estão captando cada vez mais recursos para o setor do agronegócio por meio da emissão de títulos incentivados (LCAs), ao passo que a captação via LCIs voltada para o setor imobiliário é menor e até reduzida.
De acordo com dados da B3, a expansão líquida do estoque de letras de crédito do agronegócio (LCAs) avançou R$ 8,71 bilhões ou 14,9% no ano até o final de julho, para um estoque total de R$ 67,104 bilhões. Ao mesmo tempo, o estoque de letras de crédito imobiliário (LCIs) caiu 10%, de R$ 183,3 bilhões em dezembro de 2017 para R$ 164,96 bilhões em 31 de julho de 2018.
Nessa dinâmica, as instituições financeiras devem atender com maior volume de concessões de crédito a safra 2018/2019. “O agronegócio continua aquecido, o que leva os holofotes dos bancos para esse segmento. É um setor com boas garantias e de ciclo mais rápido. Os bancos conseguem casar a captação em LCAs de um ano ou dois anos com a demanda por crédito para o setor”, explicou o executivo do Banco Ourinvest, Nelson Campos.
Por outro lado, o executivo pondera que o desemprego elevado e o menor número de lançamentos de imóveis novos devem limitar a captação em LCIs. “No imobiliário residencial, a decisão pelo financiamento é de pessoas físicas. E tem que ser uma decisão muito pensada, o desemprego é grande, e os contratos são de médio e longo prazos. Os mais jovens estão adiando seus planos da casa própria”, argumentou Nelson Campos.
Ele ponderou que há uma tímida melhora no crédito imobiliário pelos bancos para o segundo semestre de 2018, mas que as instituições financeiras já estão bem atendidas por recursos da caderneta de poupança para 2019. “Se tiver uma recuperação, o sistema deverá começar a captar mais [em LCIs] em 2020”, aponta.
Quanto a rentabilidade de LCAs e LCIs para o investidor, Campos lembrou que esses papéis isentos do imposto de renda para pessoas físicas remuneram a taxas entre 85% a 90% do DI [depósito interfinanceiro], dependendo do prazo. “As LCIs e LCAs possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC, e tem muita demanda dos investidores”, exemplificou.
Em outras palavras, com a taxa do DI está em 6,39% ao ano, os bancos captam recursos em LCIs e LCAs abaixo desse patamar, e dessa forma, conseguem oferecer juros mais baixos com taxas de mercado no financiamento imobiliário (10,1% ao ano em média) e para o agronegócio (10,2% ao ano na média).
Quando os bancos captam via caderneta de poupança, rural ou urbana, (5,02% ao ano em média, nos últimos 12 meses até junho), repassam a taxas reguladas para o crédito rural (7,5% ao ano) ou no financiamento imobiliário (7,8% ao ano, em média) para clientes pessoas físicas.
“Os recursos da poupança são suficientes. O setor imobiliário não tem necessidade de crédito no momento por causa da demanda do consumidor bastante reprimida”, diz o diretor da Garín Investimentos, Richard Wabba.
De fato, conforme relatório do Banco Central divulgado ontem, a caderneta de poupança registrou captação líquida de R$ 3,75 bilhões em julho, sendo R$ 2,067 bilhões no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e R$ 1,681 bilhão na rural. No acumulado de sete meses do ano, a caderneta soma entrada líquida de R$ 11,097 bilhões.
Na visão de Wabba, o agronegócio demanda mais financiamentos por causa da alta do dólar que facilita as exportações. “O setor do agronegócio é muito dinâmico”, destacou o diretor.
Ele pontuou que as LCAs possuem uma rentabilidade atrativa para os investidores, entre 80% a 100% do DI dependendo do prazo e do risco do emissor. “Espera-se que o próximo governo não discuta a retirada das isenções, mas é um assunto que sempre volta em início de mandatos”, avisou Richard Wabba.
Nelson Campos contextualizou que certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) e imobiliário (CRIs) até oferecem uma rentabilidade maior que as LCAs e as LCIs, mas sem a proteção do FGC. “Tem o risco de crédito do emissor privado”, alertou.
Segundo os dados da B3, neste outro segmento, as CRAs apresentam crescimento de 1,7% no ano até o final de julho, com uma expansão líquida de R$ 514 milhões, formando um estoque de R$ 30,667 bilhões. Na outra ponta, o volume em CRIs apresentou queda de 1% nos mesmos sete meses, de R$ 73,423 bilhões em dezembro de 2017 para R$ 72,72 bilhões em julho de 2018.
Dados do BC
Segundo o último boletim de operações de crédito divulgado pelo Banco Central, as concessões de financiamento rural com recursos direcionados para clientes pessoas físicas subiram 4,6% no ano até junho para o volume de R$ 34,773 bilhões.
Sendo que na modalidade com taxas reguladas, o aumento do crédito rural para pessoas físicas foi de 5,5% para o montante de R$ 32,567 bilhões. Já na modalidade com taxas de mercado, menos utilizadas por pessoas físicas, o financiamento recuou 6,3% para o montante de R$ 2,206 bilhões. Mas, na concessão de financiamento rural para pessoas jurídicas (empresas) com taxas de mercado houve alta de 19,2% no ano, para o montante de R$ 12,22 bilhões.
No financiamento imobiliário, as concessões para pessoas físicas recuaram 1,6% no ano para R$ 40,391 bilhões. E os empréstimos para empresas (PJ) caíram 39,2% para R$ 3,274 bilhões em desembolsos no acumulado de 2018 até junho.
Fonte: DCI
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