Em 29/06/2018
Clipping – A Cidade On - Associações de bairro recorrem ao MP contra nova Lei do Puxadinho em Ribeirão Preto (SP)
Entidades de Ribeirão Preto protocolaram representação no Ministério Público por tratamento desigual de contribuintes
Os representantes de quatro associações e sociedades amigas de bairros de Ribeirão Preto recorreram ao Ministério Público, com o objetivo de barrar a intenção da Prefeitura em criar uma nova "Lei do Puxadinho".
A minuta do projeto de lei complementar de regularização de construções irregulares - que, entre outras propostas, prevê a legalização de imóveis irregulares com o pagamento de multa - foi apresentada e aprovada na sessão de 5 de junho do Comur (Conselho Municipal de Urbanismo). O projeto voltou para a Prefeitura e, segundo apurou o A Cidade, ainda não foi apresentado à Câmara Municipal.
A representação contra a Lei do Puxadinho, versão 2018, foi protocolada no MP de Ribeirão Preto na terça-feira (26.06), pelos presidentes da Asac (Associação Amigos do Jardim Canadá), Sajar (Sociedade Amigos do Jardim Recreio), Amor (Associação de Moradores da Ribeirânia) e Sacy (Socidade Amigos da City).
Injusta
"Essa lei é profundamente injusta. Ela premia meia dúzia de infratores em detrimento de milhares que cumprem a legislação", afirmou o presidente da Asac, Honyldo Roberto Pereira Pinto.
Uma das bases jurídicas presente na representação e usada pelas associações para impedir que se torne lei é que "agride o princípio constitucional da isonomia, ao instituir tratamento desigual entre contribuintes em situação equivalente...".
A representação ainda ironiza a ideia geral do projeto, ao afirmar que "o Representado conseguiu a proeza de elaborar uma proposta caridosa aos abonados e injusta aos necessitados". "É uma vergonha! Essa Lei do Puxadinho não foi feita para beneficiar o pequenino, como eles dizem, foi feita para o grande, que comete ilícitos", disse o presidente da Amor, Ivens Telles Alves.
Em março, a Secretaria de Planejamento publicou uma lista de 12.272 contribuintes que deveriam pagar a diferença de IPTU, pelo uso de puxadinhos nos seus imóveis.
Comur
O presidente do Comur, Silvio Contart, definiu o projeto da Prefeitura como um mal necessário. "Isso aí é daquelas coisas que não é certa, não é correta, mas de vez em quando tem de fazer", afirmou. Por lei, a Prefeitura tem de enviar projetos que envolvam questões ligadas a urbanismo para o Comur. No entanto, o parecer do órgão é meramente consultivo.
O presidente do Comur também negou as afirmações que o projeto enviado pelo Executivo Municipal favoreça os grandes proprietários. "Na apresentação que foi feita aqui no Comur, por um técnico da Prefeitura, a maioria dos imóveis que serão afetados pela lei tem metragem inferior a 100 metros quadrados", afirmou.
Arquiteta critica projeto
"Este projeto de lei tem um objetivo bastante simples: "perdoar" aqueles que descumprem as normas edilícias mediante o pagamento de uma multa proporcional à área construída do imóvel". A avaliação é da arquiteta e urbanista Vera Migliorini, que aponta, ainda, uma incoerência entre o projeto e a lei existente.
A justificativa apresentada pela Prefeitura no PLC é que a maioria das irregularidades verificadas está em construções clandestinas situadas em bairros populares e que violam índices urbanísticos, tais como taxa de ocupação máxima e afastamentos mínimos, mas que não comprometem a salubridade das edificações ou os direitos de vizinhança. Além disso, tratam-se, em sua maioria, de situações que estariam isentas da multa por constituírem edificações de pequena área construída.
"Ora, se existem obras irregulares que não comprometem o direito de vizinhança nem indicam condições de insalubridade para o usuário, significa que a própria legislação municipal apresenta restrições que não se justificam, e portanto deveriam ser alteradas", disse. Além disso, Vera destacou que a prática de construir à margem da lei não está restrita aos bairros populares, mas também a bairros e condomínios mais abastados.
"Perdoar quem fez errado, sabendo que contrariava as normas, ainda que mediante o pagamento de uma contrapartida, não seria um modo de induzir que a população, e acima de tudo, os profissionais da construção civil, persistissem no erro?", perguntou. Outro lado
"Se construiu onde não pode, terá que demolir" O secretário de Planejamento e Gestão Pública de Ribeirão Preto, Edsom Ortega Marques, negou que o espírito do PLC (Projeto de Lei Complementar) seja arrecadar dinheiro como contrapartida à legalização de construções irregulares.
"Esse não é o objetivo principal do PLC. Não tem sentido o Poder Público impedir que as pessoas regularizem as construções irregulares, passíveis de regularização. Não significa regularizar qualquer tipo de construção irregular. Se construiu onde não pode, não será regularizado. E terá que demolir", afirmou."
Segundo ele, construções que ferem os princípios do Plano Diretor não poderão ser regularizadas, nem as que comprometam segurança e salubridade. "O objetivo é que o proprietário tenha o seu bem regularizado", completou Edsom Ortega. Lei do puxadinho 2016
Em janeiro de 2016, a administração Dárcy Vera aprovou uma lei do puxadinho. No entanto, em novembro do mesmo ano, o Tribunal de Justiça considerou a iniciativa ilegal.
Fonte: A Cidade On
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